Outra forma de arte

A grande maioria tende a esquecer-se (de forma muito inconsciente) que a arte não é apenas escrita, estátuas, monumentos ou pinturas. A imagem em movimento também o é... desde os seus primórdios. Desde o primeiro filme de ficção científica, em 1902 - o cinema tinha apenas uns 6 aninhos! e já fazia isto que vão ver -, até coisas igualmente maravilhosas que vemos hoje.

Por isso, a minha contribuição é a arte que mais aprecio: CINEMA (com a música como acompanhante).

Voyage dans La Lune (Viagem à Lua de George Méliès)



God Is a DJ! (da Double Edge Films)

O Salvador de Dalí



O Salvador de Dalí

[1972-Figueras-Espanha]

Abriu os olhos, não se devia ter deixado dormir, estava já meio torto no seu banco de madeira. Apressou-se a endireitar a sua cabeça similar a um ovo, e a limpar a ligeira baba que já escorria pela sua boca em forma coraçao. Buñu era um rapaz igual a todos os outros, talvez mais pobre, mais gordo, mas mais culto que a maioria dos jovens que vivia em Figueras, pequena cidade da província de Gerona. A ele tinha sido incubida uma tarefa muito importante, vigiar a mítica casa de Salvador Dalí em Figueras, enquanto ele viajava pelo mundo, a difundir a sua arte única. Dalí confiava em pouca gente, mas Buñu, rapaz pobre da pequena vila de Figueras, era como um filho para o grande génio da arte, mesmo que não o tratasse como tal. Porém, tinha sido noticiado por toda a cidade que Dalí havia desaparecido há dois meses, e ninguém sabia dele! Muitos haviam já tentado convencer Buñu a deixar a velha e poeirenta casa, mas o jovem rapaz não conseguia trair o seu velho ‘mestre’. Os pais de Buñu nem esperavam por ele para comer, eram oito pessoas nessa casa e quantos menos melhor...O rapaz não queria saber disso para nada, entretia-se a passear pela pequena casa todos os dias, como se os estreitos corredores escondessem uma nova surpresa a cada momento.
Semanas depois, noticias de mais artistas desaparecidos enchiam os jornais, algo de estranho se passava...
Certo dia, já Buñu se encontrava quase a cerrar os olhos, um vulto passou-lhe à frente da vista, ao fundo do corredor. Meio agitado levantou-se da cadeira e foi a correr atrás dele, tropeçando nos atacadores e esbarrando com a cara no chão. Levantou-se e virou à esquerda no corredor, na direcção em que tinha ido o vulto. Sabia que aquela parte do corredor acabava numa parede, sem absolutamente nada. Quando lá chegou até se babou, em vez de uma parede simples, um grande quadro ocupava toda a parede, contudo era um quadro bastante estranho, não tinha sido pintado por Dalí, pelo menos não estava assinado, nem tinha qualquer característica do pintor. Era de uma simplicidade encantadora, uma pequena estação de comboios no meio de um deserto, nada mais, mas pintado com poucos pormenores. Buñu aproximou-se e tocou no quadro, sentindo algo idêntico a um choque, mas suave. Apressou-se a fechar os olhos, e quando os abriu, já nem havia baba para escorrer pela sua boca em forma de coração. Estava na mesma estação do quadro, sem fazer a miníma ideia de como havia lá chegado! Tinha um banco atrás dele, usou-o para se sentar, ainda algo chocado com a situação. Reparou que chegava um comboio, mas um comboio muito estranho visto que mais parecia uma casa rolante. O comboio parou e Buñu pôde ver o seu reflexo no espelho do comboio, lá dentro parecia não haver ninguém. Quando o comboio partiu, Buñu reparou em algo inacreditavel, o seu reflexo continuava com o comboio! Mas que loucura seria esta? Onde é que ele estava? Levantou-se rapidamente e dirigiu-se a alguém que pudesse estar dentro da estação, que parecia estar no meio de um deserto. Ao entrar reparou num homem vestido de azul que se encontrava deitado no chão, de olhos abertos e a murmar algo...
- Desculpe, pode dizer-me onde estou? – perguntou o jovem rapaz com voz de cana rachada.
-Estás na terra de todos....de todos os artistas filho! Estamos todos presos aqui! Pelo menos enquanto o bigodeiro não acabar o seu quadro, hahahah – respondeu o estranho homem, e dito isto levantou-se e saiu aos pulos em direcção ao deserto.
Buñu deu um estalo a si próprio, para a eventualidade de estar a sonhar, mas não estava e tinha doído. Sentindo-se algo perdido, decidiu olhar em volta em busca de algo. Reparou numas escadas que saíam pelo tecto. Começou a subi-las e a subi-las e a subi-las, e quando deu por si estava no exterior, a uma grande altura. Lá em baixo conseguia ver a estação dos comboios, e em cima nada! Buñu estava apavorado, mas não ia desistir, o seu mestre podia estar preso neste mundo, ele tinha que o salvar!
Vinte minutos depois de muita subida, conseguiu avistar uma casa lá em cima, apressou-se a subir as escadas. Chegando ao local, Buñu reparou numa tela que se encontrava nessa casa. Na tela encontrava-se Dalí, com uma cara completamente apavaroda, no que parecia ser um buraco negro. Ao lado da tela estava um pincel, como que a convidar Buñu a acaba-lo. O jovem, gordo e com um ar idiota, pegou no pincel, e lembrando-se de algumas técnicas usadas pelo seu mestre, desenhou uma estranha figura, que parecia um cavalo com cara de lua e casas nas suas costas. Subitamente, ocorreu uma explosão e Dalí saltou para fora do quadro!
- Giorgino!!! Meu rapaz! Foste o meu salvador! Fiquei preso num dos meus quadros, não me devia ter desenhado a mim próprio....era necessário um pormenor meu no quadro, para que pudesse sair! Tu salvaste-me! – disse Dalí a Buñu (Dalí trocava sempre o nome das pessoas).
Antes que o pesado rapaz perguntasse como iriam sair daquele sitio, Dalí retirou o que pareciam ser dois ovos gigantes de um dos bolsos do casaco e deu um a Buñu.
- Bate com o ovo na cabeça e diz, “Eu tenho a cabeça do tamanho de um ovo deste tamanho”(separando as mãos como se estivesse a medir algo grande entre elas). – disse Dalí.
Buñu assim o fez, algo aparvalhado e com algum receio. Porém, quando abriu os olhos, o rapaz estava em casa de Dalí, e o seu mestre encontrava-se mesmo ao seu lado, penteando o bigode com o que parecia ser uma dentadura humana.
No dia seguinte podia ler-se em todos os jornais: “Pequeno rapaz da aldeia de Figueras salva Salvador Dalí – Buñu, o Salvador de Dalí”.
O rapaz estava feliz, sentia-se muito corajoso por ter feito tal proesa. Entretanto, Dalí partira para a Índia, em busca de inspiração para um novo trabalho. Buñu apenas receava que ele se metesse noutro sarilho...

João Fernandes

PS: Peço desculpa pelo tamanho.

Arte de Am(arte)

Gosto da maneira com te expressas,

Como calas suavemente a minha voz.

Agora compreendo

Poetas,

Pintores,

Músicos,

Escritores,

Por terem amores irreais

E platónicos.

Que se alimentam desses sentimentos

Como se de agua se tratasse

Sede de amar o impossível

Fazer disso o alimento da alma

Fugir do concretizável

Correr do idealizável

Procurar o impossível

Porque dá chama

Dá mobilidade de pensamento

O cérebro não se cala

E surge a criação

Inspirada num ser

Ou em vários

Ou simplesmente na Natureza

Que é o local onde pertences

Onde queres estar

Onde te vejo

Parte integrante

Harmoniosa

Posso ficar aqui contigo

Nesta frase

Nesta ideia?

Posso viver contigo neste verso?

Mesmo que na realidade nada se concretize?

Deixa-me inspirar no teu ser

Mesmo que só saia prosa, poesia,

Para mim já és uma forma de arte

É a minha maneira de mostrar

Ao mundo

Mesmo que seja só ao meu mundo

O quanto gosto de ti!

Dom...


Arte de pintar o sentimento...
…do fazer original
…do sentimento escrito
Arte do estar…
…do permanecer
…do ficar
…do estar sem estar
…do permanecer sem ficar
Arte da vida…
…do viver a vida
…do ir sendo vivido
…do viver sem o ser
…do morrer sem morrer
…do viver partindo
Arte de exultar o amargo…
…de rir sem vontade
…de ter vontade e não rir
…de alegrar chorando
…de partir desejando
Arte de subtrair…
…de somar dividindo
…de sentir partidas sem volta
…de guardar o seu espaço com misto de dor e alegria...

Arte é viver aguardando pelo tempo que se esgotou!

Arte.

Alguns borrões de tinta,
Repartidos por uma folha.
Tudo bem misturado com sentimentos
Entrelaçados em imaginação.

Além da folha e do papel,
Rochas podem ser usadas,
Tendo escritos e gravuras,
Esculpidas em toda a sua face.

Agora arte arte,
Reconheçamos nós,
Tudo o que é mais bem apreciado,
É a arte de bem escrever.

Certo dia passeava numa colina perto do mar...estava o fim da tarde exposto aos meus olhos. Aquele laranja amarelado do ceu, fazia-me murmurar rimas, palavras, versos...meus, de outros.Alguém tinha escrito versos em toda a parte...palavras repetidas ao expoente da loucura... Aquele som, aquela brisa quente e húmida, aquele sol grande que abraça o mundo inteiro. Aquele dia de Outono, aquele calor a tocar na pele, a agua fria nos pés, o extenso areal a perder de vista, as gaivotas...ao fundo o horizonte batia no céu, fazia uma linha tenue com o mar. Gastava-me o olhar, pesava na alma, mas dava paz, serenidade, vida. Picasso poderia ter pintado o melhor quadro da sua vida ali, Einstein poderia formular uma lei de energias. Eu olhei e escrevi...

Este excerto é dedicado e escrito para o mar mais lindo que já vi... é uma homenagem a todos os que partilharam comigo o nascer do dia em Porto Côvo, o pôr-do-sol, a Ilha do Pessegueiro, e que só de olhar, imaginavam pinturas, fotografias, histórias...
È tambem para quem está á espera do resto da historia...para quem me dá inspiração todos os dias, para quem vê na escrita uma bela forma de arte...

Vitória


Ás vezes gostava de ficar imortalizada no tempo, gostava que me imortalizassem, num quadro, num desenho, num esboço, numa escultura, até mesmo numa pintura rupestre. Temos sempre coisas para ensinar aos outros e somos espécies em vias de extinsão.
Que chatice!
Queria permanecer aqui, como os quadros que adoro, como as obras arquitectónicas que me enchem o espirito, queria ganhar as formas geladas dos objectos escultóricos, queria tão simplesmente “iluminar” um livro, num desenho meu a relevo, para que até os cegos me pudessem ver, ou resumir-me a um objecto de joalharia.
Às vezes necessitamos mesmo de ser “objectos”, de deixar de sentir, de ficar meio mortos e deixar apenas que nos olhem e nos comtemplem, nos amem, como eu amo tantas artes, tantos artistas, tantas pessoas que na minha vida se imortalizaram atráves de objectos. Poderia com tudo isto criar um Museu! Ao mesmo tempo que queria ser a obra principal de um qualquer artista, queria tanto que me pintasses naquela tela, que me tornasses grandiosa e intocável criando um espaço em minha honra, como se fazia às igrejas e aos templos, queria que me desses formas através do bronze. Queria fazer parte de todas as vidas que se seguem à minha e ser sempre a peça de arte de alguém, aquela que se comtempla, aquela por quem se suspira.

Espelho...


Um circulo quadrado…
Um conjunto de Almas, processos e Formas,
Cheias de astúcia pura…
Figuras de um modelo…
Uma Imagem!!!
Feitios Palpáveis…
Um Real que não existe…
Prácticas efectivas de sagacidade e engano…
Habilidades que professam o Mal…
Correspondências oficiais de manhas!!!
Formas de ser… Estar…
Capacidades de lá chegar…
Aptidões Formosas de um todo…
Tem Beleza…
É gentil…nobre…
Actos para atingir Perfeição…
Maneiras…Disposições…
Tocam ao de leve no Belo,
ao de leve para não estragar…
É este o desejo contíguo…
É este o retrato, a Pintura, o Quadro…
É a Poesia, a Escultura, o Canto…
Paredes a perder de vista…
Livros com um infinito de Letras…
Estatuas do tamanho do Universo…
Notas musicais de cortar Fôlegos…
É este o círculo exposto na tela,
pincelado em tons de Azul Negro…
É isto a Arte…
É o que Nós somos…
Sempre!