
Numa bela manhã acorda a pequena menina, que após realizar os seus haveres segue, num acto de procurar entretêm, para a rua, vislumbrando pássaros e flores, cheirando os odores que exalam das rosas, das orquídeas, dos gelados que na rua são vendidos, dos perfumes das senhoras de classe.
Atenta a tudo o que a rodeia, a pequena menina chega a um parque. E algo chama-lhe a atenção. Algo pequeno, luzidio, salta-lhe à vista.
A pequena menina pega no objecto e examina-o cuidadosamente com toda aquela avidez de criança, tentando decifrar todos os significados ocultos que aquele pequeno objecto estranho encerra.
A pequena menina lembra-se de ver muitos objectos daqueles nos pulsos dos "Grandes". Mas os "Grandes" nunca lhe explicaram para que ele servia.
E assim perde a pequena menina tempo a olhar para o pequeno objecto desconhecido, olhando para os seus números, para os seus ponteiros, que tão vagarosamente se movem.
Passam-se minutos, horas, e a pequena menina não larga os olhos dos ponteiros e dos números. Não iria sair dali sem saber o significado de tal objecto. Reparou que o ponteiro menor, o que andava menos que todos os outros, havia já percorrido dois dos números existentes na parte achatada do relógio. Que quereria isso indicar?
Ela reconhecia os números 1, 2 e 3 que se encontravam cravados no relógio, embora mais que isso não fosse reconhecível. Que números seriam os outros que ali se encontravam? Que significariam? Porque precisariam os "Grandes" de tais objectos?
Tantas e tantas questões percorriam a mente da pequena menina, ávida de conhecimento, no entanto sem qualquer resposta.
Novamente horas se passam, horas que poderiam ser aproveitadas para brincar, correr, pular, e que são assim gastas a olhar para um objecto que nada lhe diz.
Ao entardecer, a mãe da menina vai buscá-la ao parque, onde ela passou toda a tarde a olhar para o relógio e a tentar compreende-lo. Dando-se por vencida diz: "Que coisa mais estranha esta, que todos os "Grandes" usam e que eu não consigo entender. Perdi a minha tarde aqui a olhar para isto. Foi uma perda de tempo. Sim, é para isso que este pequeno objecto serve. Para perder tempo."
A ideia que a menina obteve da sua tarde com um relógio é mais acertada que a de qualquer pessoa. Ora pois, pensando bem, quanto tempo perdemos nós a olhar para um relógio, a ver as horas, quer nas aulas, quer no trabalho, quer simplesmente na rua ou em casa?
O tempo passa, como tudo passa, e não importa olhar para o relógio, porque não é ao olhar para ele que as respostas vêm, mas sim pelas acções e pela vivência.
A menina perdeu uma tarde, mas e quem perde uma vida à espera que o tempo dê sinal de ter acabado?